" Sem qualquer excepção, homens e mulheres de todas s idades, de todas as culturas, de todos os graus de instrução e de todos os níveis económicos têm emoções, estão atentos às emoções dos outros, cultivam passatempos que manipulam as suas próprias emoções, e governam as suas vidas, em grande parte, pela procura de uma emoção, a felicidade, e pelo evitar das emoções desagradáveis. à primeira vista, não existe nada de característicamente humano nas emoções, uma vez que é bem claro que os animais também têm emoções. No entanto, há qualquer coisa de muito característico no modo como as emoções estão ligadas ás ideias, aos valores, aos príncipios e aos juízos complexos que só os seres humanos podem ter, sendo nessa ligação que reside a nossa ideia bem legítima de que a emoção humana é especial.
A emoção humana não se reduz ao prazer sexual ou ao pavor dos répteis. Tem a ver, igualmente, com o horror de testemunhar o sofrimento e com a satisfação de ver cumprida a justiça; com o nosso deleite face ao sorriso sensual de Jeanne Moreau ou à densa beleza das palavras e ideias da poesia de Shakespeare; com a voz cansada desencantada de Dietrich Fischer-Dieskau ao cantar Ich habe genug de Bach; com o estilo simultaneamente etéreo e terreno com que Maria João Pires executa Mozart ou Schubert; e com a harmonia que Einstein provocou na estrutura de uma equação. A emoção humana pode até ser desencadeada pela música barata ou pelo cinema de má qualidade, cujos poderes nunca devem ser substimados.
O impacto humano de todas as causas de emoção acima citadas, refinadas ou não, e de todas as tonalidades de emoção que estas provocam, subtis e não subtis, depende dos sentimentos gerados por essas emoções. É através dos sentimentos, que são dirigidos para o interior e são privados, que as emoções, que são dirigidas para o exterior e são publicas, iniciam o seu impacto na mente.
Mas o impacto completo e duradouro dos sentimentos exige também consciência, pois só com o advento do sentido do si podem os sentimentos tornar-se conhecidos do indíviduo que os experimenta. "
António Damásio in " O Sentimento de Si "