30 de dezembro de 2009

Brindemos a 2010



Os anos passam, sucedem-se... uns tão apaticamente iguais, outros tão dramaticamente diferentes.
Mas existem anos felizes. Ou anos com dias felizes. Ou dias com momentos de felicidade.
O que importa é que existam, que se sintam e façam sentir e não passem por nós vazios ou nós, por eles, sem sentido.
Todos os anos se festeja, de uma forma ou de outra, o segundo de transição da soma de todos os dias que se gastaram nas nossas vidas e a vinda de outros tantos.
Que se festeje pois, mas mais do que isso...
Que se festeje a chegada de mais trezentas e sessenta e cinco oportunidades de fazermos um pouco mais e melhor...
Por nós, para que brilhe mais a nossa lua, vivendo alto;
Pelos outros, para que sintam que os gestos que parecem banais, são afinal fundamentais;
Pela protecção e preservação do mundo, para que não deixe de ser o melhor lugar para viver.
Que se festeje a alegria de não ver perdida a esperança de mudar o que está ao alcance das nossas mãos, quando sabemos que não podemos mudar o mundo.
Que se brinde com lágrimas ou risos o maravilhoso privilégio que é viver . Viver a sonhar e a partilhar. Viver perdendo e ganhando. Viver a crescer e a dar. Viver a amar.
Que cada um de nós, seja a gota de água, o raio de sol, a luz maior que faz a diferença. Que ame cada dia do novo ano, espelhando um sorriso, e que nenhum segundo se desperdice.

BOM ANO !

Escrito na inspiração dos últimos dias do ano e em "Espelho de água" de Paulo Gonzo.

26 de dezembro de 2009

Às vezes...



Às vezes…
Rasga-se esta vontade inquieta, permanente e fria
De desfazer em poeira a dolência dos dias
De reduzir a noite à preposição mais clara
De sorver da alma um hálito novo

Às vezes…
Embriagam-se os passos dementes
E no fio que me escreve apreso a vontade
Esta infame e impensada agonia
De querer que o presente se transforme em saudade

Às vezes…
Tudo é menor que a lua que brilha
E nem lagos nem fontes saciam o nada
De ser e não ter a verdade incomum
De ficar adiada no tempo, perdida e achada…

Às vezes

19 de dezembro de 2009

Mensagem de Natal

Sendo a festa da vida, do amor, da família, da humildade e da dádiva ao outro, o Natal provoca sempre em nós emoções fortes e muito variadas . Não será por isso estranho, que sempre se contaram e escreveram histórias que fazem alusão ao espírito natalício. Histórias que oscilando entre a luz e a sombra, a alegria e o sofrimento, nos obrigam a reflectir no final de cada leitura, de forma a tornarmo-nos mais humanos.

Hans Christian Andersen, célebre escritor dinamarquês do século XIX, escreveu alguns desses contos que pela sua riqueza literária, desprovida de moralismos e pela linguagem simples que utilizam, são considerados ainda hoje, dos mais belos de sempre.

A menina dos fósforos é um conto triste. Nele, as luzes e as sombras do Natal marcam presença e particular significado, colocando em evidência algumas das questões existênciais do ser humano: Os limites, as exclusões e os abandonos... As esperanças, as forças e os sonhos.

Porque Natal é antes de mais e para além de tudo, um tempo de reflexão, de encontro e interiorização das nossas fraquezas e das nossas forças, num ritual de renovação, de partilha e de afectos, deixo-vos a história, para que não esqueçamos o verdadeiro sentido desta quadra..




Existe em cada um de nós uma menina dos fósforos.

Será que a conhecemos bem?


16 de dezembro de 2009

Ausências



Sinto que os passos te levam para longe
No sono absoluto dos dias
Arrancando da árvore o fruto gerado
Estarei onde me deixas
No exacto segundo onde me procuras
Além, onde saramos todas as feridas
E o amor tem formato de perdão


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11 de dezembro de 2009

Isto dá que pensar (3)


O que realmente importa, é que.....




... o melhor que pode dar a alguém, é de si que vem !



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6 de dezembro de 2009

Heranças...


No silêncio dos gestos...


Era como um ritual que finalizava a brincadeira que se havia prolongado no banho.
Eu enrolava a toalha à volta da minha irmã e esta, só com a carita de fora, aproveitava a vantagem de estar ao meu colo para se olhar ao espelho.
- Olha uma velhinha! - dizia eu, e ela ria feliz e eu ria com a felicidade dela.

Os anos passaram...

Hoje já não dou banho à minha irmã. Teresa cresceu, fez-se mulher e hoje é ela que dá banho à filha.
Há dias a Inês, minha sobrinha, veio passar uns dias comigo, e com ela voltei a repetir aquela brincadeira da toalha enrolada e da velhinha que se olha ao espelho. Inês riu , tal e qual a mãe na sua idade. Eu também.
Quando já vestida, ela se preparava para eu lhe secar o cabelo, olhou para mim e perguntou:
- Ó Tia, como é que tu sabes fazer as mesmas coisas que a minha mãe me faz?

...corre a seiva dos afectos !

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3 de dezembro de 2009

A minha Árvore de Natal


Penduro no abeto uma estrela que Te guie
Aqui, porque Te espero
Nos lugares onde só resta o infinito
O olhar já não se cobre em manto de ouro
E nada mais corre na fonte
Só um grito.
Cubro os ramos verdes de finos brilhos
Para que ilumines brumas e sombras
Nos rostos tristes de apatia
Onde a sede de ser já se perdeu
E a mesa está faminta ao abandono.
Minha árvore verde esperança, já renasce
De Dezembros solidários, enfeitada
Eis que chegas, meu Menino
Semeando em cada madrugada
Um coração imaculado igual ao Teu
No peito de quem às vezes, não sente nada.


1 de dezembro de 2009

Ser família...


Às vezes passávamos as férias na aldeia onde o meu pai nasceu e, eu gostava de ver as galinhas com os pintos às costas. Pois às costas!
Os pintos saltam para cima das "costas" das galinhas mães e chak, chak, chak aí vão eles a passear.
Nunca vi os galos, que são os maridos das galinhas e pais dos pintainhos, deixarem os filhos viajar nas suas costas! Coitadas, só as galinhas é que têm de dar toda a atenção aos bébés! São bem atrasados, os galos! Eu lembro-me de o meu pai vir buscar-me cá abaixo ao chão, agarrar-me os punhos e ... chak! sentar-me nos seus ombros! Mas, o que eu estava a criticar era o feitio conservador dos galos. E não mudam... O meu pai mudou... Era quase igual à minha mãe, só que foram sempre diferentes. Ela era a minha mãe e ele era o meu pai. Trataram de mim os dois e eu gostei.




Margarida Carpinteiro in " Um animal desconhecido" 1993 com ilustração de Juan Soutullo.


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