29 de setembro de 2010

Quando me pergunto quem sou




Quando me pergunto quem sou
Há um riacho límpido
A serenar nos meus olhos
O cansaço do tempo
Nas pupilas

Solto dos dedos
O linho branqueado dos gestos
Que fiado à dor da geada
É bordadura do meu céu
E fino véu que me tem abrigada
Do voo rasante dos milhafres

Quando me pergunto quem sou
Apenas a textura rude da estopa
Envolve a minha circunstância
Com ela teço a pele
Com que me entrego
Cerzindo todas as chagas
E apenas nessa imperfeição
Me reconheço



25 de setembro de 2010

Imagino-te por nascer



Em noites demoradas
Na exaustão aguda dos gritos
Dilacerados e roucos
Imagino-te por nascer
Nas madrugadas infinitas
Escorridas de insónia
Onde a rocha em mim se faz areia
Despedaçada
Eu imagino-te por nascer
E no tacto trémulo
Da minha lua desventrada
Ergo o corpo dorido
Na alma parida
Esvaziada
E choro
Por não te sentir nascido
Por não me sentir nada



21 de setembro de 2010

De ti


Gizaste-me menina
Alva, intacta
Num corpo rendilhado
De sonhos teus de mulher
Desejaste-me o voo
Integro, profícuo
Muito além de todas as rezas
E na arte de ser
Escreveste a última linha
Muito antes de contemplar a obra feita
Eu...
Ainda hoje pouso no teu beiral
À procura dos teus olhos





Esboço de
Thamar de Araújo

15 de setembro de 2010

Magia de Setembro



Desfaço o ângulo morto
Da queda lenta de uma folha
E quando penso que já não sou
Eis que me embalas
No canto manso dos teus beijos
E doce, nasce de nós o vento
Que é aroma de mosto quente
Tronco de um corpo renascente
E esperança de todas as manhãs



9 de setembro de 2010

Para lá do arco-íris






















Há segredos
Que ocultam vícios
Dismorfias
Carícias infames
Pérfidas
Impróprias
Frias
No abuso das horas
Há lamentos vazios
No bafo quente dos lobos
Que dizem ser homens
Há silêncios
Há degredos
Na vergonha dos segredos
Há rios de vida que morrem
Em nascentes abafadas
Há verdades esborratadas
Pelas asas dos morcegos
Há medos
Deixai que a arca se abra
E se solte sem demora
A verdade amordaçada
Aprisionada
Nessa caixa de Pandora
Olhai com mais atenção
O orvalho que cai encoberto
Às vezes mesmo tão perto
Da árvore que é raiz
Um olhar de amor inteiro
Que em dia soalheiro
Vê a criança infeliz
Para lá do arco-íris
Em muitos desenhos de cor
Existe um risco negro traçado
No rosto de quem devia ser flor


7 de setembro de 2010

Sinfonia da ciência (2)


"Qual o nosso lugar na perspectiva cósmica da vida?"

(Robert Jastrow)

"Uma das grandes revelações da exploração espacial,

é a imagem da Terra, finita e solitária,

acomodando toda a espécie humana,

através dos oceanos, do tempo e do espaço."

(Sagan)

The Symphony of Cience

3 de setembro de 2010

O que eu penso sobre.... A Paz




A Paz não é um decreto, um projecto ou um papel assinado.
Não é uma simples solução urgente, para o sossego da ira ou para um sono tranquilo de uma consciência culpada.
A Paz não é propaganda, uma ordem de quem manda ou uma alínea qualquer de um programa mundial.
A Paz é uma construção livre, de amor, justiça e verdade, que começa no nosso umbigo para abarcar a humanidade.
Sendo um bem, é também ela um direito; individual e comum.
É um princípio de vida.
É dignidade colectiva, no humilde respeito de um por todos e de todos por cada um.