28 de março de 2011

O gemido dos teus olhos


Não era o fogo que fazia gemer os teus olhos
Apenas  mágoa,
Que sem saber porque nascera
Amparava o desfolhar das camélias
Como se elas fossem,
O único chão possível
Para acolher a nossa alma a morrer de angústia.

23 de março de 2011

Há sempre uma manhã





Na morte das noites densas
há sempre uma manhã
que crê no regresso das andorinhas
e na dor sublimada dos poetas.
É o beijo do vento
no eclodir das folhas que hão-de vestir
de novo
os ramos nus
como as palavras vestem os versos,
musas, a bordar desígnios
nas asas feridas das borboletas.




17 de março de 2011

Só por hoje



Só por hoje
só a vida vale, só ela importa.

O mundo é uma folha que se rasga
enquanto os homens morrem
tombados
como baralhos de cartas
e as árvores choram desventradas,
raízes expostas
reduzidas a nada
expulsas à força pelo centro da terra
sem armas, sem guerra
só silêncio, sal e mais nada.

Só por hoje
só a vida é, só ela importa
e nada mais há
que esta frágil existência.

8 de março de 2011

Escreve-se mulher



Escreve-se eternidade
com um olhar diferente,
quando são ventre
todas as palavras,
e a vida,
um tempo tão escasso
lamacento ou areado,
a escapar-se num fino espaço
indagando felicidade.


Escreve-se mulher
nesse olhar em frente
nascente de toda humanidade.



1 de março de 2011

Inspiração em Sophia



Luz e sol e pintura
sobre o telhado à noite a lua cresce
abro os olhos como um barco pelas ruas
no entanto outonece

Sophia de Mello Breyner Andresen, ilhas


Outonece tantas vezes, no azul
de uma sinuosa aguarela
perde-se a lua do sol
enquanto ele procura por ela

Maria João de Carvalho Martins